por Paul Harrison.


Para o terceiro milénio precisamos de uma religião científica.
O cerne desta religião 
é a reverência pelo universo material como única divindade 
e pela terra natural como sendo sagrada.


Fracturas conchóides de pseudomalaquite 


Porque precisamos de uma nova religião?
Porque precisamos de todo de uma religião?
Cosmos divino, terra sagrada.
Unidade da religião e da ciência.
Unidade da religião e da estética.
União mística e a transcendência do ser.
Fundações éticas.
Imortalidade mortal.
Ajude a divulgar o panteísmo científico.


Porque precisamos de uma nova religião?

Vivemos num mundo consciente como nunca antes das vastas extensões do cosmos, da imensa variedade das espécies na terra, e das relações entre entidades a todos os níveis. Vivemos num mundo urbano e industrial que é dominado pela ciência e pela rápida troca de informação.

Contudo, as principais religiões que dominam o mundo de hoje desenvolveram-se no seio de povos de agricultores e pastores, em épocas em que a superstição prevalecia à ciência. Épocas em que se pensava que o sol orbitava à volta da terra e que as estrelas eram orifícios num “tecto”.

Esta contradição produz uma incongruência na mente de cada crente. Existe uma área quotidiana das nossas vidas durante a qual somos astutos como raposas, investigando, experimentando e continuamente encontrando soluções, conduzidos pela razão, pela evidência e pelo pragmatismo.

E há, nas nossas vidas, uma área religiosa da qual são banidas a razão e a evidência. Uma área na qual somos ingénuos como crianças. Durante a qual acreditamos em coisas que desafiam a experiência e a ciência – milagres, ressurreições, vozes divinas ou angélicas, salvadores vindos do céu. Uma área em que algumas pessoas parecem prontas a acreditar em quase tudo (veja ). Esta área religiosa é de central importância para a parte emocional das nossas vidas. Tutela as mais importantes transições da vida, desde o nascimento, passando pela adolescência, até ao casamento, paternidade, e morte. Governa as nossas expectativas a respeito da morte e da vida para além da morte.

A incongruência entre razão e religião é perigosa para a nossa integridade mental. A área religiosa ajuda a encobrir ou a incubar outros tipos de irracionalidade, políticos ou raciais, e demais recusas em confrontar a realidade e a evidência. Agarramo-nos intensamente às nossas crenças religiosas. Contudo, devido a que grande parte delas é de facto pouco credível frente à nossa mente pragmática, somos muito sensíveis no que a elas respeita, defensivos e agressivos. Condenamos os descrentes ao inferno após a morte – ou pior, condenamo-los ao inferno antes da morte, através de perseguição, discriminação ou confronto massivo.


Porque precisamos de todo de uma religião?

Devemos ultrapassar este embate entre o nosso ego racional e o nosso ego irracional. Então porque não simplesmente abandonar a religião em favor da ciência?

Porque a ciência por si só não consegue satisfazer as nossas necessidades mais profundas.

Num mundo urbano, em que o isolamento é tão comum, precisamos de acreditar em alguma coisa que seja maior que nós próprios. Alguma coisa menos divisiva que a nossa identidade étnica ou nacional. Alguma coisa mais englobante que os nossos fragmentados bairros. Alguma coisa mais perdurante que o nosso frenético mercado global.

Precisamos de uma fonte de valores e de significado na vida. A ciência explica coisas – mas não pode atribuir-lhes valor nem significado. É certo que alguns cientistas divulgam as suas explicações – especialmente sobre a vida e a mente – de modo a diminuir valor ou significado. Contudo as pessoas não se conformam a ser reduzidas a meros mecanismos, ou a escravos de genes cegamente egoístas.

Precisamos de um mais profundo suporte para os nossos sistemas morais. A ciência trabalha com factos, não com éticas. Muitos filósofos tentaram divisar sistemas éticos baseados num altruísta interesse próprio. Mas se a regra é o interesse próprio, então o interesse próprio egoísta será sempre poderoso.

Caso único entre os animais, os humanos são amaldiçoados com a consciência da sua morte. Precisamos de ter esperança de viver além da nossa morte. A ciência nada nos pode dizer relativamente à vida depois da morte.

Precisamos de procurar alguma maneira de satisfazer estas profundas necessidades a que as religiões tentam dar resposta. Contudo, ao mesmo tempo devemos manter todo o rigor da aproximação científica. Nunca devemos divorciar-nos da razão; nem da evidência. Nunca devemos perder de vista o mundo real da experiência (Veja Que há de científico no panteísmo científico?


Cosmos divino, terra sagrada.

Na forma em que é proposto, o panteísmo científico comporta duas convicções básicas:

O cosmos é divino.

A terra é sagrada.

Não nos referimos aqui a entidades espirituais capazes de pensar ou de sentir. Referimo-nos ao cosmos e à terra conforme existem, constituídos por matéria. Tudo o que existe é matéria ou energia numa ou noutra forma. Nada pode existir se não for matéria ou energia.

Quando dizemos que os cosmos é divino, fazemo-lo exactamente com a mesma convicção e emoção com que os crentes dizem que o seu deus é Deus. Mas não estamos a fazer uma afirmação metafísica que esteja isenta de ser provada ou negada. Fazemos uma afirmação ética que significa nem mais nem menos que isto: Nós devemos relacionar-nos com o universo da mesma forma que os crentes em Deus se relacionam com Deus. Ou seja, com humildade, êxtase, reverência, celebração e a busca de uma mais profunda compreensão.

Quando dizemos que a terra é sagrada, fazemo-lo exactamente com a mesma dedicação e reverência com que os crentes falam acerca da sua igreja ou mesquita, ou das relíquias dos seus santos. Mas não estamos a fazer uma afirmação acerca do sobrenatural. Dizemos que devemos tratar a natureza da mesma forma que os crentes tratam dos seus tempos e santuários, como local sagrado – local a ser reverenciado e preservado em toda a sua glória.

As religiões dominantes descrevem os seus deuses de várias maneiras: misteriosos, extasiantes, todo-poderosos, omnipresentes, transcendentais, infinitos, eternos. Estas descrições não são arbitrárias, nem são simples projecções de características humanas. Os atributos divinos baseiam-se nas verdadeiras propriedades do universo (veja Os verdadeiros atributos divinos.)

Quando os teístas veneram deuses, sem o saber eles adoram o cosmos. Mas esta veneração diferida não funciona como um canal para o universo ou para a natureza. Pelo contrário, separa. Desvia a atenção das pessoas da real divindade que está à frente dos olhos, para uma divindade imaginária que existe nas suas cabeças. 


Unidade da religião e da ciência.

O panteísmo científico não implica nenhum conflito com a ciência nem com o pragmatismo. Tão pouco exige que delimitemos uma área das nossas vidas da qual a ciência esteja banida.

Ao invés fortalece a ciência, dotando-a de uma fundação religiosa. A ciência torna-se parte da cruzada religiosa: a perseguição de uma mais profunda compreensão da Realidade da qual todos fazemos parte, de mais profundo conhecimento da natureza e do ambiente, de forma a melhor podermos preservar a abundante diversidade natural.

E a ciência fortalece a religião, exactamente o que se pensava que a teologia medieval fazia. As descobertas científicas sublinham constantemente a complexidade, a espetacularidade, o mistério de Ser. Nunca podem miná-las, porque o derradeiro mistério da existência, o insustentável êxtase da sua presença mantém-se impenetrável e assim continuará.

Empirismo – abertura à nova evidência, a toda a evidência, ouvir – torna-se não apenas uma ferramenta essencial de investigação, mas um dever sagrado em todos os aspectos da vida, da ciência passando pela política até à vida doméstica (veja Que há de científico no panteísmo científico?)

Se o Real é divino, então a divergência do real é um crime similar à blasfémia.

Se a natureza é o único paraíso, então a separação da natureza é o único inferno. Quando destruímos a natureza, criamos um inferno na terra para as outras espécies e para nós próprios. 


Unidade da religião e da estética.

O panteísmo científico abre a porta para uma outra união, entre religião, estética – a apreciação da forma – e a arte.

A estética baseia-se na estrutura física dos nossos cérebros e órgãos dos sentidos. Estes, por sua vez, baseiam-se na estrutura da matéria.

Existe uma ressonância entre a forma do universo físico, ou da natureza, e as nossas faculdades estéticas. Esta ressonância baseia-se na unidade do ser e do mundo: somos feitos da mesma massa do cosmos, seguimos os mesmos padrões que o resto da natureza. Reagimos às formas naturais porque fazemos parte da natureza. Reagimos às formas físicas como as destas páginas porque fazemos parte do universo material.

Assim a estética é a resposta intelecto-sensorial à divindade de Ser – do mesmo modo que a religião é a resposta ético-emocional e a ciência é a resposta cognitiva. Esta percepção devia suscitar um novo estímulo e uma nova raison-d’être à arte, para que a arte se possa libertar do beco-sem-saída para dentro do qual rastejou.

Nenhum tipo de arte humana consegue criar imagens tão fantásticas nem tão gratificantes como as que contemplamos todos os dias, ou as que vemos à escala cósmica ou microcósmica através dos telescópios ou microscópios.

Já é tempo da arte deixar de se focar no seu próprio umbigo, ou nas opiniões dos críticos, galerias e académicos, e passar a focar-se na celebração do divino cosmos e da sagrada terra. 


União mística e a transcendência do ser.

A par do ritual e da oração, a maior parte das religiões tem um mais directo acesso místico à divindade.

A experiência mística tem certas características comuns nas religiões. No seu cerne está a experiência de ir além do ser e da unidade com a divindade. Contudo, diz-se frequentemente que a experiência é difícil de atingir e de conservar.

A união mística é acessível através do panteísmo científico. De facto é mais acessível que sob outras religiões, porque o processo não depende da imaginação ou disposição. É simples de compreender, aberta a todos, e repetível.

Pode atingir-se sob um céu limpo cheio de estrelas e de galáxias, ou ao pé de uma orla florestal. Pode experimentar-se junto de um lago crestado pelo vento, ou em frente de uma vela acesa. Pode sentir-se enquanto se segura um seixo de granito ou um pedaço de casca de árvore.

A união mística com a realidade consiste num total abandono da consciência à experiência sensorial da realidade material. O ser torna-se simplesmente o veículo para a autoconsciência da realidade. O ser é transcendido, e re-unido com o todo do qual ele é parte.

Esta experiência pode conseguir-se a qualquer momento, por qualquer um. Não exige nenhum treino árduo, e nunca deixa ficar aquele sentimento de pobreza e de marginalização que tantos místicos sentem quando perdem a `conexão´ com o Deus imaginário dentro das suas cabeças. 


Fundações éticas.

Todas as religiões funcionam como suporte de sistemas éticos, frequentemente sob a ameaça do inferno, ou a promessa do céu. Elas acolhem o bem, não pelo seu valor, mas na esperança de recompensa ou de evitar penalizações.

O panteísmo científico começa como uma ontologia – uma afirmação a propósito de Ser. Contudo, conduz a uma ética e a uma política. A ética baseia-se na premissa o principal bem na vida humana consiste em ligar-se com o cosmos, com a natureza e com outros humanos. Tudo o que aprofunda essa conexão em cada um e nos outros, é bom. Tudo o que a prejudique, é mau.

Certas emoções fortes são obstáculos à conexão. Entre estas, a mais proeminente é a ansiedade. Origens da ansiedade são a insegurança ou a exposição ao perigo – insegurança emocional, devida à ausência ou perda de amor; insegurança económica, devida a pobreza e devida a perda de meios; insegurança física, devida a doença, desastre, catástrofe ambiental ou violência. De diferentes maneiras, animosidade obsessiva e inveja podem também tornar impossível a conexão com o cosmos.

Conexão significa encontrar maneiras de controlar estas emoções em si próprio, e promover condições que minimizem os seus efeitos nos outros: famílias estáveis que nutram o amor e comunidades devotadas; o fim da pobreza; distribuição equitativa de rendimentos e trabalho; e a pacífica resolução das disputas através de verdadeira democracia e efectiva participação.

A conexão tem implicações ambientais para além de prevenir as ameaças ambientais. Ela Solicita o livre acesso para todos às áreas naturais com uma grande diversidade de espécies. Isto promove, o mais possível, a preservação dos habitats naturais. Significa a recriação de áreas naturais em cidades ou bairros delas desprovidos. 
Ela significa a preservação do máximo da biodiversidade – a riqueza das espécies. Ela significa a preservação das espécies não apenas contra a extinção total, mas preservá-las ou reabilitá-las no seio do maior número de habitats possível, de forma que o maior número de pessoas delas possam desfrutar. Saber que os pintarroxos ainda existem algures de pouco serve, se eu nunca os ouço nos campos próximos de onde vivo.

A conexão solicita fácil acesso ao cosmos. À medida que o mundo se urbaniza, a radiancia do céu nocturno mistura-se com a luz irradiada para cima proveniente da iluminação pública não deflectida. Necessitamos de campanhas que ponham fim à poluição luminosa dos nossos céus nocturnos, para que possamos vê-los de novo em todo o seu esplendor. Necessitamos de um aumento massivo no número de grandes telescópios, com livre acesso ao público.

A conexão significa a maximização da nossa interacção com o Real. Desde que a escrita foi inventada, os humanos perderam a maior parte do seu tempo confinados ao mundo das suas línguas e sistemas simbólicos, o que frequentemente mascara o mundo real e nos separa dele. Temos de aprender a reduzir o tempo que perdemos navegando em mundos irreais, para que tenhamos mais tempo para experimentar o mundo real. Nem ficção, nem drama, nem arte, nem a música se comparam à intensidade do mundo real se a ele estivermos completamente receptivos.

Devemos criticar aquelas crenças que dificultam a conexão. Incluindo as crenças reducionistas num mundo material vazio de significado ou valor. Incluindo também as crenças num Deus apartado do mundo presente, crenças numa vida depois da morte melhor que a presente. Contudo, porque as crenças religiosas são fervorosamente tidas, devemos criticar de forma não ofensiva, começando por apontar as características comuns. 


Imortalidade mortal.

Acreditar numa vida depois da morte é quase universal nas sociedades humanas. No mediterrâneo antigo, supunha-se que a vida após a morte fosse uma tétrica e fantasmagórica semi-vida dissimulada. A crença num paraíso celeste muito melhor que o mundo actual emergiu depois, frequentemente no rescaldo de grandes morticínios: fome, peste, ou guerras.

Acreditar num paraíso não serve os nossos esforços para preservar este mundo. Se o paraíso existe, então há sempre um outro, melhor mundo à nossa espera, mesmo que destruamos completamente a terra.

Acreditar num apocalíptico fim do mundo, comum ao Cristianismo e Islamismo, tem efeitos ainda mais perigosos. Se o próprio Deus um dia enrolará os céus como um pergaminho e fará chover fogo na terra, então porque temos de lutar para a preservar?

Ainda assim muitos de nós sentimos a necessidade de acreditar na sobrevivência à morte. Temos de encontrar uma solução empírica, que seja compatível com a evidência. A evidência aponta para que os nossos corpos e mentes não sobrevivem à morte. Os testemunhos de pessoas que acordaram de períodos de morte aparente não constitui evidência, já que nenhuma delas morreu realmente.

Então que sobrevivência podemos esperar? A resposta é `imortalidade mortal´ – sobrevivência através das obras e memórias que deixamos no mundo real.

Primeiro, descendência. A maior parte das pessoas deixa cá filhos e netos, que transmitem o seu material genético. Porque esta herança está escondida, deve ser reforçada com livros de linhagem, ocupações e locais de residência tão antigos quanto possível. Linhas genealógicas presentes com o passado e futuro, fazendo do tempo uma narração e não apenas uma sucessão de momentos isolados. A linhagem relaciona, em última análise, todos os humanos a um grupo ancestral comum. Pode até relacionar todos os seres vivos da terra a uma anterior espécie que os originou.

Segundo, recordação. A maior parte das pessoas é lembrada após a sua morte. A frequência e grau de afeição com que são lembrados depende do seu altruísmo para com os outros. Estas recordações deviam ser entrosadas na tradição, como acontece no este e sudeste asiático. Uma vez por ano, no aniversário da morte ou do nascimento de cada pessoa, os seus descendentes devem contemplar uma sua imagem e celebrar a sua memória.

Terceiro herança – o legado de valiosas posses relacionadas com a memória da pessoa: a bengala favorita, um trofeu desportivo escolar, um fóssil coleccionado.

Quarto, feitos. As boas acções e obras de uma pessoa vivem para além dela, em alguns casos por muito tempo. Quanto maior o feito, tanto maior a sobrevivência. Alguns dos maiores criminosos e egoístas da história – pessoas que destruíram milhões de vidas em nome de conquistas ou de ideologias – são também lembrados. É importante que o ensino da história distinga mais cuidadosamente o bem do mal, e denuncie a memória dos “grandes” conquistadores.

Estas formas de `real vida depois da morte´ resultam num tipo de sobrevivência que satisfará a maior parte das pessoas. Quase de certeza elas estimularão uma maior bondade e consideração, efectivos esforços em melhorar o mundo e na preservação da natureza, do que a expectativa do paraíso. O Deus do Cristianismo pode perdoar uma vida inteira de destrutivo egoísmo mesmo no leito da morte. O tribunal dos descendentes, e do mundo natural, não o fará. 


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Imagem de fundo: Fracturas conchóides de pseudomalaquite


Páginas sobre panteísmo: índice.
História do panteísmo.
O cosmos divino.


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